Assistimos um "bate-papo" memorável e histórico entre o educador e filósofo brasileiro Paulo Freire e o educador e matemático estadunidense Seymour Papert e abaixo encontram-se destacadas as principais ideias e discussões ocorridas no evento, que pode ser assistido no youtube nos links ao final do texto.
Seymour Papert afirma que devemos dar mais consciência às crianças do seu processo de aprendizagem e incentivá-las a participar desse processo.
Segundo Paulo Freire, ainda enfatizamos o lado qualitativo do conhecimento, e isso é um absurdo. Defende e prega o que chama de "pedagogia da pergunta", da curiosidade.
Papert afirma que hoje há um desequilíbrio entre a valorização do ensino e a da aprendizagem. Estamos dando muita importância ao primeiro e esquecendo o resto.
Ele cita alguns dos estágios do processo de aprendizagem do ser humano. Fala sobre o estágio experimental, onde a criança tenta descobrir o mundo com sua capacidade sensorial e determina seu próprio processo de aprendizagem.
Em uma outra fase, a criança passaria a ser ensinada e seu processo de aprendizagem seria determinado pelo "mestre". Entretanto, Papert afirma que os jovens estão cada vez mais burlando essa fase por conta própria, e que isso se dá fundamentalmente por conta do aumento e a facilidade do acesso a informação nessa era tecnológica.
Ele afirma que o papel fundamental da tecnologia junto à educação é contornar essa fase e que lhe parece que num futuro não muito distante, eliminá-la. Ele sugere que o objetivo dos professores deveria ser buscar novas maneiras de lidar com as crianças, aproveitando essas habilidades.
Paulo Freire diz que a crítica feita à escola é válida, porém não concorda com o ponto em que se diz que a escola está desaparecendo, sendo substituída pelas tecnologias. Para ele, a solução não seria acabar com a escola, e sim mudá-la radicalmente de forma que nasça dela uma entidade tão atual quanto a tecnologia.
Ele acredita que devemos tentar consertar os erros cometidos na segunda fase do processo, mas que tais erros não têm natureza didática ou metodológica, mas sim ideológica e política.
Papert e Paulo Freire discordam na questão de se a escola é ou não ruim. Para Papert, a escola segrega os alunos e a sociedade, além de discriminá-los por idade, obrigando-os a seguir um currículo que em sua visão também não é bem aproveitado. Para Paulo Freire, a escola está sendo vista como isso, mas não deveria ser assim. Nós deveríamos descobrir uma alternativa a essa metodologia. Para ele, a escola, em si mesma, não é errada nem ruim, mas ela está.
Para Papert, a continuidade da escola nos moldes como a conhecemos é inconcebível e está fadada a desaparecer. Paulo Freire então diz: "É possível então que eu seja ingênuo, mas eu prefiro tombar na ingenuidade esperançosa de um diapoder mudar, a cruzar os braços hoje na desistência fatalista de que não é possível mudar."
Após, eles discorrem sobre como se daria uma revolução na escola a fim de mudá-la e o que realmente seria essa revolução. Para Paulo Freire, a escola deve ser um órgão social que deve se prontificar minimamente a executar determinadas tarefas, como ele cita, proporcionar o conhecimento do conhecimento já existente e a produção do conhecimento ainda não existente.
Para ele, as tecnologias aceleram indiscutivelmente a apreensão do conhecimento, mas não necessariamente da razão de ser daquele conhecimento, o que seria fundamental e indispensável. O papel da escola deveria, então ser o de despertar a curiosidade e ajudar os alunos a descobrir a razão de ser do conhecimento que eles deveriam adquirir. Talvez a destreza dos jovens em lidar com as tecnologias seja pelo fato de eles terem nascido na era dessas tecnologias, de terem crescido com elas.
Na minha opinião pessoal, concordo com todo o discurso que o Paulo Freire pronunciou. Seymour Papert parecia estar tentando chegar no mesmo ponto que ele, entretanto por outros caminhos, que eu não concordo que sejam os mais aplicáveis às necessidades da sociedade nem dos indivíduos.
Me parece que a preocupação de Papert era tão somente satisfazer as necessidades individuais por conhecimento de cada pessoa, mas apenas os momentâneos. Não parece que conhecimentos profundos requeridos em algumas situações tenham vez de se desenvolverem na metodologia que ele propõe.
Após termos assistido os vídeos, concordamos que a discussão foi engrandecedora e extremamente proveitosa.
Seguem, então, os links para os vídeos:
parte 1 - parte 2 - parte 3 - parte 4 - parte 5 - parte 6 - parte 7
"O homem rico tem comensais ou parasitas, o homem poderoso, cortesãos, o homem de acção, camaradas, que também são amigos"
André Maurois
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